quinta-feira, setembro 07, 2006

Carnação Platônica

Carnação Platônica

Acordo enjoada dos primeiros goles da manhã, mais uma vez, as dobras preguiçosas do lençol me fazem companhia. Embriagadas, gota a gota de lágrimas elas me fissuram. Sorrio, dando-lhes meu recatado bom dia. Ao meu lado, quase cutucando, sussurra tic-tac-te-peco-te-suo-te-coro, o relógio. Enfim, levanto da cama tropeçando nos meus sentimentos, enrolando e dobrando minhas roupas e paixões, uma a uma.

Ainda na fresta do seu íntimo. O armário guarda, meio bagunçado, um antigo perfume de ausência jamais estada... Espalhando a leve fragrância, a remexer o cinzeiro, com tocos e cinzas do meu medo, procurando no quarto vazio, o meu querer. Até me encontrar assim...

Distraída, meio perdida, percorrendo teus cabelos, afogada no teu cheiro. Chego a assoviar teu nome. Tu, a sentir um estranho silêncio. Te fito, ardo, murmurando te amar em segredo. Rogando um olhar, um gesto. Tu sem notar. Invejo, eu, tuas mãos que te tocam, te confortam. Ainda peco, te cerco com olhares. Tu, a deixar apenas o sorriso e a sombra.

Engulo o suspiro, esse vício, calada. Me pego, finalmente, catando cacos de mim aos teus pés.
Inventando platonicamente você.

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