sábado, junho 30, 2012

história inventada de corsários e poetas

o corsário invadiu minhas águas e me sequestrou.


leio o i ching, escrevo desatinadamente e imagino: 


agora, de pijamas mesmo, ponho chave, trocados e uns sentimentos no bolso. saio pela cidade, invado avenidas, a lua vai lá fora e me leva, me chama, me impulsiona, corro na contramão do futuro, é presente!o presente se chama presente porque é uma dádiva. pedaladas, no portão, não sabe o número, e a sacada, se eu entrar pela sacada? falta um poema na mão ou uma garrafa de vinho? é fogo, incêndio! e arfa, coração na boca. 


fecha os olhos. olha para dentro. respira. é tudo calma de águas plácidas. e esse furacão que vem do coração? aonde vai parar?


no colo, no verde dos olhos, nessas cores que nem reconheces e nem sabes dizer seus nomes. nesse céu que transforma de verde quando escurece de nuvens. nesses olhos que fazem transmutações. nessas palavras que fazem deslizamento de terras. nesses dedos de vento que sopram, se aportam em mim. nesses silêncios coloridos de alegria e um sorriso doce de criança. 


e eu, aqui imóvel diante deste castelo sem paredes que construí para ser mais desafiador chegar: tens sorte de eu ser poeta e fazer poesia, ao invés de revoluções na tua porta!

histórias de uma rua chamada solidão


agora tenho um sono interminável e um cansaço de pestanas baixas de quem carrega a um nascer do sol nos olhos, esse resquício da boemia. me sento sem amanhã em um banco, em uma bicicleta, em um sofá no chão que é a cama desse amor urgente.

me faço ali entregue, mergulhada nos cheiros e gostos. e como quero brincar no teu corpo, escorregar meus dedos e te fazer sentir as sutilezas, os lugares recônditos e propícios, deixando rastros e um arrepio de um arranhar leve, rasgos claros. e se de repente palpitam pupilas castanhas infantis, eu de pronto agradeço delas virem acompanhadas de um sorriso docemente sacana. aaah...

tenho um ontem guardado feito o vôo de um pássaro que é bonito deixá-lo ir só para poder vê-lo voar. me serves nas noites de carinho e mal sabes que nem posso com essa vitamina toda da manhã que me ofereces com essa cara lavada de mãos apenas. faço um esforço para lembrar nos absurdos e na gratuidade da noite anterior a essa, para ter um pouco de raiva, e não posso, porque já me perdi nos risos e delícias de todos causos e besteiras que contamos e nos deixamos levar, talvez pela honestidade, talvez pela mentira bem dita em exagero.

e se te faço mais bonito do que realmente é, talvez porque não te conheço, e muito porque comecei a traçar os primeiros traços e eles vem do meu coração que é teu espelho. meu coração está inundado de amor pelo mundo cada dia um pouco, é um cão vadio, amante de malandros velhos, artistas pé rapados e bons garotos da classe média, às vezes até de mulheres lindas, por que não?! e recebo cartas de amor apaixonadas e mensagens impróprias nas madrugadas. e o que importa? pouco ou quase nada nesta meia-noite em que de novo preciso dormir, mas a lua continua a brilhar lá fora e bob dylan e pink floid não são o bastante para uma noite de cama e repouso.

toca milton, sabina, baleiro, cazuza e lenine mil vezes como se fosse inédito, como a primeira vez. e me sinto como se o mundo fosse pequeno. e em todas as canções tem alguma coisa de ti e penso, puta que pariu: tou fudida!, não como antes... um pouco mais, um pouco mais, e ele ainda me receita um chá para gripe enquanto atrás do balcão responde a provocações a dois centímetros, bilhetinhos impróprios e doces na ponta língua. 
e da minha boca estonteada pende o desejo latente de ir ou não ir, querer ou não querer.

pronto, estou cá com minha alma e pro beijo de boa noite de minha mãe: sou sossego e alegria. 
alegria de estar viva, de eu ser exatamente quem sou e de te ter deliciosamente desnecessário.

quinta-feira, junho 21, 2012

Laço sem nó

Para Laura Pujol
que me ensinou a lembrar dos meus sonhos

amar é perpetuar a pele,
expandir a alma
inspirar.
entrega imediata de
render (-se)
entrelaçar (-se):
laço sem nó é o amor.
solto
leve 
livre
reticências com olhares entre um gole e outro.
é zelo, demora, estada
deixa ir para saber voltar.
à toa, à tona é
lágrima no banho, recusa, raiva, saudade, esse vaziozinho,
tudo isso é amor.
muito além, muito aquém dos trópicos, das distâncias
não há pressa, é só momento:
denso, profundo, infinito, 
corpo que pesa, cheiro que fica.
aperto, arrepio, sopro, conforto
sorriso, peito amigo, peixinhos limpa vidro e abraço desconhecido.
tudo é amor!
eu,
tu,
nós,
eles,
todos, 
é único:
só eles, só nós, só tu, só eu: sol.
iluminar é amar.
é permanência,
estado,
presença.
amar é tatuar a alma na pele?

Inverno /2012

Com amor, Cubas