quinta-feira, agosto 27, 2009

Caso de polícia

depois do pé na estrada

circo montado

2 garrafas de iusque

música

tumtumplax

risadas

risadas

risadas

horas de música

"traz água para ele"

um desconhecido se divertindo

"ele não tomou o remédio"

"ele não tá bem"

"ele tá se fazendo"

"toma no cu"

grosserias

carinhos desesperados

puxa o cabelo

plax

tapa

tapas

plax plax plax

mordidas

aaaaaaaaaa

coração na boca

tum-tum tum-tum

arranhões

tum tum plax

uma catástrofe dermatológica

uma cara de pau:"te amo"

um urro: "sai fora"

polícia.

vai pelo ralo:

o amor,

o quarto,

o sonho.

marcas no corpo

marcas no corpo

dor nas entranhas

um adeus pra nunca mais.

sabe-se bem:

é hora de destruir

e depois de construir

fatos mudam.

aí nesses dias de calma, quando tudo já não passa de pó, abro a porta e entra na minha sala a minha possibilidade de amor com corpo e face.

suspiro de alegria: toda transformação exige uma ruptura.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Buena estrella, camarada!

Buena estrella é mais que uma louvação, camarada. É o que todo caminhante e marinheiro deseja: uma luz para poder seguir no meio da noite, uma direção em pleno dia. A buena estrella pode ser um aviso de sorte. Os antigos acreditavam que quando uma estrela brilhava alto, era sinal de bons presságios. Nos caminhos pela vida, o viajante percebe que qualquer direção leva a algum lugar. Qualquer caminho é um caminho, um poema no meio da estrada:

Caminante, no hay camino
se hace camino al andar,
al andar se hace camino
y al volver la vísta atras,
se ve la senda donde nunca se hade volver a pisar
Caminante no hay camino
sino estrellas en lo mar

E não esqueça da imensidão do oceano, de como o menino olha pela primeira vez para ele e pede ao pai que o ajude a enxergar! Descubra o mistério de léguas que diferenciam a nostalgia portuguesa da saudade bem brasileira, se acaso conseguires, me conte. Chuto, eu, que a semelhança está em Calabar que delega uma pista: no fundo somos todos sentimentais e herdamos do sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, além da sífilis, é claro.

On the road, baby! Let's go, Rain Man. Your life awaits.

Ande nas ruas e faça delas sua nau. Vá a cemitérios, becos de esquina, botecos, cabarés, museus, bibliotecas e na casa da Mãe Joana. Deixe uma garrafa vazia para Fernando Pessoa e folhas em branco para Augusto Abelaira, eu sempre quis fazer isso.

Leia as instruções de como abrir um presente e apenas o abra quando a hora do esquecimento chegar. Por isso te digo de minha boca e de minha caneta que tem um tino pelo espanhol: Dá-me tu olvido y te daré tu libertad.

Gosto de dias de chuva, deixam os ipês malemolengas e preguiçosos, além de tudo ela expurga tudo que há de preso em mim. Não é à toa que lava calçadas e caminhos.

Evoé Iaiá!

Ainda fica em mim a curiosidade de quem imagina ruas estreitas, um cancioneiro em uma janela, uma cidade em confusão com o arcaico. Se encontrará os cafés dos meus escritores? Os meus livros preferidos, que tu nem mesmo sabe quais são. E os poetas? Como andarão os poetas mortos? E aqueles loucos e marginais vivos? Afinal, para mim só contam os que são loucos por alguma coisa, loucos por viver, loucos por falar, loucos para serem salvos, os que querem tudo ao mesmo tempo, os que jamais bocejam, que não dizem banalidades, mas ardem, ardem, ardem como fogos de artifício.

E te daria palavras de conforto: boa viagem, se cuide e ame. Mas detesto despedidas, cais do porto cheios de adeus e portas que se fecham, tenho muita dificuldade até em dizer tchau, porque seguido dele, vem um, até mais, a gente se vê. Minha vó já me avisava desde pequena para tomar cuidado: quem é vivo trata de sumir, os mortos é que às vezes aparecem.

Então é isso, buena estrella e um ponto final e de partida.