quarta-feira, agosto 30, 2006

Dentrum do palavrório

pífios goles de tesão degustou esse dia
entre vozes encarnecidas de poemas
vi o gozo da felicidade derramar
papéis fugidios que aos poucos
nós juntávamos com a delicadeza
de um sapeteio florido.

entre um pulmão podre e um cigarro:
a volúpia da palavra!

domingo, agosto 27, 2006

espelho extraordinário

para gerusa marques.

meu deus era um espelho! arregalei os olhos, esfreguei-os, nada, não via nada! era praticamente um vampiro tentando sugar algum miligrama de reflexo, essa ilusão ótica, ou de qualquer coisa que pudesse me sugerir vida. e foi, quando não pude mais olhar pra dentro de mim, eu sabia, teria de comê-lo: cada parte terrivelmente humana, e o pior, seria de mim! talvez me engolindo não me perdesse. me contruísse enfim. era um espelho e teria de comê-lo. e nessa luta pelo reconhecimento da minha existência fiz até jura e prece. em vão, é claro, pois narciso tinha se esquivado de mim, renegado sua paixão e sua ilusão, mas havia um perseu contra a medusa do meu medo, medo de não achar aquilo que pode ser preenchido pelo espaço questionável do eu. eu, corpo. eu, lírico. eu, ser. eu, etc. perseu que saiu violentamente de mim pegou o espelho, e através dele refletiu toda essa coreografia dialética em um estado: era pra eu ser? ser humano? comi todo o espelho. rasgando carnes e incertezas. e agora despendia de mim uma grande realidade: eu mesma.