Quando menina eu sonhava em ter um bordel. Minha vó contava histórias extasiantes sobre a casa do final da rua. Era povoada de demônios, bandidos, malfeitores e mulheres rebordosas. Lá o dia começava quando as estrelas já estavam altas no céu. Eu escutava todos aqueles risos embaixo das cobertas, o que mais poderia ser tão engraçado? Eu ria junto, especialmente da mulher do riso bolha, era uma risada tão gostosa que lembrava uma bolha de sabão: eu imaginava aquela bolha sair de dentro de um corpo bem gordo e ir explodir nos ouvidos alheios, causando muitas cócegas.
Eu me escondia na árvore que parecia uma escultura da casa da vovó e ia lá espiar. De manhã era uma casa sonolenta, só podia sentir, do vão da janela, alguma fumaça, um cheiro forte de café e esmalte. Eu tentava entender as palavras de uma cristã-católica-ortodoxa ao contar que aqueles abutres já tinham ceado toda carne fresca da casa. Pobres fantasmas da luxúria!
Quem teria sido o assassino dessa carnificina? Nunca me esqueço a primeira vez que vi uma arma e sangue. Era uma glock, uma pistola comum, foram apenas três tiros.
Eu me escondia na árvore que parecia uma escultura da casa da vovó e ia lá espiar. De manhã era uma casa sonolenta, só podia sentir, do vão da janela, alguma fumaça, um cheiro forte de café e esmalte. Eu tentava entender as palavras de uma cristã-católica-ortodoxa ao contar que aqueles abutres já tinham ceado toda carne fresca da casa. Pobres fantasmas da luxúria!
Quem teria sido o assassino dessa carnificina? Nunca me esqueço a primeira vez que vi uma arma e sangue. Era uma glock, uma pistola comum, foram apenas três tiros.
Esta era uma história de uma princesa, que vivia em um castelo cheio de bruxas barulhentas e tão fumantes quanto chaminés, as bruxas andavam apáticas e velhas, se alimentavam mal, às vezes se injetavam algumas outras coisas. E a princesa vivia ali, alheia a tudo, como num conto de fadas, tinha regalias mil, era intocável e perversa. Aquela bonequinha de luxo tinha os desejos mais sádicos. A hora do dia que mais gostava era quando uma das bruxas do castelo gritava, gritava o dia todo, por causa das torturas, tinham a trancado em quarto escuro para não se injetar mais. Gritou durante três dias e três noites, enquanto as festas aconteciam. A princesinha ria, ria alto quanto maior o sofrimento da bruxa.
Um dia a princesa desejou sentir aqueles outros gritos que ela também ouvia, aqueles que não eram de dor, eram gritos de cadelas no cio. Escolheu o bandido mais sujo da casa. Nada mais se soube da princesa após três meses. Ele se enforcou. Ela foi morta com três tiros.
Um dia a princesa desejou sentir aqueles outros gritos que ela também ouvia, aqueles que não eram de dor, eram gritos de cadelas no cio. Escolheu o bandido mais sujo da casa. Nada mais se soube da princesa após três meses. Ele se enforcou. Ela foi morta com três tiros.
A sociedade não perdoa um assassino, mas eu não perdoei aquela mente sádica da princesinha. O cara sujo a visitou todas as noites como um cão fiel, sem tocá-la, conforme ela queria, mas ele foi bobo contou todos os seus segredos, todas suas sujeiras, todas suas fraquezas, ela soube o sugar até a última gota, soube esfregar na cara cada palavra. Justo quando ele estava a amando, ela o traiu com o moço mais limpo que um pai-otário e bunda suja havia trazido para ele aprender a ser homem de verdade.
Ela morreu enquanto gozava em cima do rapaz, o rapaz saiu ileso, não tinha culpa, era um garoto de treze anos que vai ter dificuldades para trepar a vida toda. O assassino não foi o bandido cara suja. O assassino real dessa história de crime e castigo foi a vaidade daquela princesinha.
"Ah, menina! Sai já daí". Eu adorava todas aquelas cores no meio da escuridão. Minha vó não percebia, mas nós tínhamos a melhor caixinha de música da cidade e ficava logo ali na esquina, as composições de Noel até os lamentos de Lady Day. A música funcionava dentro daquela casa como um alento, como a imaculada diversão, talvez por isso ela estivesse 24h por lá. Eu pensava era mesmo nas dançarinas e nas roupas de pavão que elas tinham, muio brilho. Lá parecia um eterno carnaval. Eu adorava aquele jeito Moulin Rouge brasileiro que o bordel tinha. Às vezes as moças iam comprar uns tomates na nossa banca que ficava no meio da praça. E elas me adoravam, diziam que eu era a mocinha mais linda do bairro. Às vezes elas me traziam uns lacinhos de fita das roupas que eu escondia para ninguém achar, aquilo era o meu tesouro. Minha vó dizia que elas eram bruxas más que comiam crianças medrosas como eu, mas eu nem era medrosa e nem achava que elas eram bruxas, para mim eram as estrelas dos musicais que Hollywood não havia encontrado! Eu só sabia das histórias que minha vó me contava e das versões que eu criava para elas. Por exemplo, na minha história, a princesinha que morreu era uma bruxa feia e velha, já o homem sujo que se matou era um menino medroso, e o menino de treze anos era um conquistador barato, tipo o Don Juan. Quando eu era menina, eu tinha um bordel. O bordel da minha imaginação que era tão fantástico como o País das Maravilhas, tão encantado quanto a Terra do Nunca e tão inocente quanto essa camélia que eu ainda guardo no meu diário.
"Ah, menina! Sai já daí". Eu adorava todas aquelas cores no meio da escuridão. Minha vó não percebia, mas nós tínhamos a melhor caixinha de música da cidade e ficava logo ali na esquina, as composições de Noel até os lamentos de Lady Day. A música funcionava dentro daquela casa como um alento, como a imaculada diversão, talvez por isso ela estivesse 24h por lá. Eu pensava era mesmo nas dançarinas e nas roupas de pavão que elas tinham, muio brilho. Lá parecia um eterno carnaval. Eu adorava aquele jeito Moulin Rouge brasileiro que o bordel tinha. Às vezes as moças iam comprar uns tomates na nossa banca que ficava no meio da praça. E elas me adoravam, diziam que eu era a mocinha mais linda do bairro. Às vezes elas me traziam uns lacinhos de fita das roupas que eu escondia para ninguém achar, aquilo era o meu tesouro. Minha vó dizia que elas eram bruxas más que comiam crianças medrosas como eu, mas eu nem era medrosa e nem achava que elas eram bruxas, para mim eram as estrelas dos musicais que Hollywood não havia encontrado! Eu só sabia das histórias que minha vó me contava e das versões que eu criava para elas. Por exemplo, na minha história, a princesinha que morreu era uma bruxa feia e velha, já o homem sujo que se matou era um menino medroso, e o menino de treze anos era um conquistador barato, tipo o Don Juan. Quando eu era menina, eu tinha um bordel. O bordel da minha imaginação que era tão fantástico como o País das Maravilhas, tão encantado quanto a Terra do Nunca e tão inocente quanto essa camélia que eu ainda guardo no meu diário.