terça-feira, novembro 09, 2010

Hoje é dia zero

É aí já se sabe, é tempo de mudança: todas elas difíceis e essenciais. Passos desequilibrados e cambaleantes de aprender a andar novamente.
É preciso disciplina, horas de concentração, de foco. Ter disciplina não significa submeter-se a padrões ou ordens, significa rumar, dar um trajeto aos planos, arquitetar o novo. Eu que não nasci para ovo, disseram de mim: "criativa e indisciplinada."
Por isso, hoje, aboli compromissos e aplausos. Por favor, alguém me dê um passaporte para lá
onde o diabo perdeu as botas! Lá nos cus de Judas. Quero me encontrar com José de Almada Negreiros e Fernando Pessoa, tomar um café e saber tudo sobre o que tenho de escrever.
Preciso de silêncio e de um vento leve batendo na cara, olhar pro mar e me sentir parte do cosmos.
Mas não, estou tendo dias de cão e mau humor. E o mais irônico: não há motivo aparentes. Talvez eu precise mesmo de disciplina. Sentar e escrever durante horas. Quero me sentir satisfeita de ser boa amiga, amante, filha, sobrinha, neta, articuladora cultural, pesquisadora de literatura e cozinheira.

Amor não é tudo que a gente precisa. A gente precisa de amor, de alguma grana e sossego.

E então para que serve todos os livros, discos, chinelo, panela, aquela carta de amor que guardo junto com as calcinhas?

Quero resgatar a minha sagacidade e minha delicadeza de agir.

Só o humor salva. Escrever apenas me ajuda a viver.

Quero rir, rir vindo do estômago, dar gargalhadas. Sentir que perdi o ar.

Achar que quando escrevo não é só para mim.

Porque este é só o começo do começo do começo.