domingo, maio 01, 2011

Canção do Exílio

No início era verbo, depois é que veio o delírio do verbo. Manoel de Barros me segue por onde eu vá. E no meu delírio do verbo, penso no universo. O universo de nós dois.
O universo é uma palavra cheia de sentidos. Guarda um segredo dentro de si. No início era o verso. Um verso, uni-verso, ele é um. Inteirinho, com nós todos dentro dele, nós todos, nós somos um, Lennon.
Eu te disse com olhos brilhantes e profundos: o universo conspira. E você, o sentiu, o viu. E tomaste essas palavras pra ti, como um ritual de vida. Acordas e sabes que universo conspira. A arte do encontro é disso que o universo trata, meu amor.
Somos uma rede. Estamos unidos uns aos outros, o que nos separa é o que nos une em outro ponto. O que nos difere, nos singulariza, nos faz mais um ponto no mundo, cria mais conexões, mais fios a se enlaçar.
Vá, jogue no universo, seu corpo e seu pensamento. O pensamento é um impulso elétrico, ele altera, ele move algo. Ele move aquilo que a matéria bruta não dá conta. Jogue o que quiser para o universo, ele traz de volta.
E de repente me dizes que vai embora, somente com o universo a conspirar. E, aí te vás, sem lenço, sem documento, sem saudades, sem outra coisa senão a certeza que deves fazê-lo.
E éramos três: eu, tu e nós.
Tem que acontecer, tem que ser assim, Sampaio. E se você for embora, eu não sei, meu bem. Tenho a sensação que vou me perder. Mas o que há de errado em se perder? Perder-se também é um caminho, ora, Lispector! Perder-se também é um caminho.
O universo sozinho não conspira. Sem pessoas, o universo é só um verso, só uma palavra sem significado, lá longe, cheio de galáxias, constelações e poeira cósmica. É preciso fazer o universo conspirar.
E vou buscar a glória, minha glória, ser mutante. Sentir o grito ávido da paixão pelas coisas novamente. As coisas são como são, Caeiro.
E agora, que o universo está conosco? E agora que o universo é nosso? Não me digas que te vás. Apenas vá. Não me deixe navegando nesta nave perdida. Não me ponha neste exílio, longe da pátria linda de nós dois. É que acredito que se por acaso eu te encontrei, com certeza não foi por acaso.